RECADO ATERRADOR SOBRE A TUA LIBERDADE

“ ... Digamos que tudo aquilo que sabes não seja apenas errado, mas uma mentira cuidadosamente engendrada. Digamos que tua mente esteja entupida de falsidades: sobre ti mesmo, sobre a história, sobre o mundo a tua volta, plantadas nela por forças poderosas visando a conquistar, pacificamente, tua complacência. A liberdade, nessas circunstâncias, não passa de uma ilusão, pois és, na verdade, apenas um peão num grande enredo e o teu papel o de um crédulo indiferente. Isso, se tiveres sorte. Se, em qualquer tempo, convier aos interesses de terceiros o teu papel vai mudar: tua vida será destruída, serás levado à fome e à miséria. Pode ser, até, que tenhas de morrer. Quanto a isso, nada poderá ser feito. Ah! Se acontecer de conseguires descobrir um fiapo da verdade até poderás tentar alertar as pessoas; demolir, pela exposição, as bases dos que tramam nos bastidores. Mas, mesmo nesse caso, também não terás muito mais a fazer. Eles são poderosos demais, invulneráveis demais, invisíveis demais, espertos demais. Da mesma forma que aconteceu com outros, antes de ti, também vais perder!" Charles P. Freund, Editorialista do “The Washington Post”. T.A.

sábado, 9 de junho de 2012

SE CORRER O BICHO PEGA... SE FICAR O BICHO COME...


Ponta Delgada, 30 de Maio de 2012
“Se ficar, o bicho come; se correr, o bicho pega…”
Os brasileiros têm destas coisas… Em poucas palavras são capazes de caracterizar uma situação complexa. A expressão que escolhemos para título deste artigo é exemplo disso e aplica-se que nem uma luva ao “beco sem saída” para o qual os portugueses estão a ser empurrados…
Os europeístas têm vindo a insistir na necessidade imperiosa de transformar a União Europeia num Estado Federado, com efetiva unidade politica e económica. Tal é apresentado como a única solução para atual crise financeira e económica que grassa na Europa. O abandono do Euro, segundo eles, será o caos… Será uma espécie de Tragédia Grega…
Na verdade, em boa parte os Estados membros da União Europeia já perderam uma parcela substancial da sua soberania. Ao aderirem a uma moeda única, o Euro, abdicaram do ato soberano de cunhar moeda própria e logo perderam a sua independência financeira e económica. A retórica europeísta contudo chama-lhe de “soberania partilhada” que é para não espantar o Zé Povinho. É que assim até parece que vamos ter alguma voz na matéria… que podemos dizer aos nossos parceiros alemães e franceses, “alto lá parem o baile” que também mandamos… Ledo engano!
Sem moeda, não existe Comércio e sem este, não existe Economia que proporcione Desenvolvimento, ou seja, que possa satisfazer as expectativas de Progresso Social de uma Sociedade. Por sua vez, sem moeda própria, nenhuma Economia é verdadeiramente autónoma, nem mesmo as mais fortes, e logo, do ponto de vista político, um País, nessas circunstâncias, está condenado a desaparecer como entidade independente. Tal facto contudo acentua-se nas economias mais débeis, como acontece com os países da Europa periférica, que têm Balanças Comerciais deficitárias. Pelo contrário, aqueles que apresentam robustez económica, porque já a tinham antes da moeda única, a “Soberania Partilhada” não lhes faz mossa… Em grande parte até lhes trás vantagens, uma vez que a sua Balança Comercial é positiva, ou seja exportam mais do que importam. E é positiva, em grande parte, graças às exportações para os ditos “periféricos”. Eis porque vemos uma Alemanha e até uma França mandarem bitaites aos pequenos mal comportados da Zona Euro… como se já fossem os donos do pedaço…
Claro que a falta de Independência Financeira e Económica condiciona a vida política de um país. Embora se diga que o Centro do Poder resida no povo, a verdade é que só formalmente isso é verdade. Nas grandes decisões o cidadão não somente não toma parte, como estas são-lhe apresentadas como facto consumado. São previamente tomadas pelos que comandam o Sistema Financeiro Internacional e ao eleitor apenas cabe escolher o que está já escolhido ou, quando não, escolher entre viver ou morrer… Daí que estejamos entre dois males, continuar ou sair do Euro. Qual deles o menor? Falta saber…
Repare o leitor que a mudança da moeda não foi apenas um expediente meramente técnico, justificado pela existência de um mercado comum, exigindo a simplificação nas trocas comerciais. Implicou e implica uma alteração política significativa que passou despercebida aos olhos da maioria da população. Quem tem a faculdade exclusiva de produzir um bem universal como é a moeda, tão indispensável à Economia de um País, tem também o Poder Politico de ditar e condicionar a vida dos cidadãos. Daí a interferência cada vez maior de Organizações Extranacionais, às vezes em coisas tão irrisórias como as dimensões de uma gaiola para o transporte de galinhas… por exemplo.

O BCE não é apenas o banco emissor do Euro. Compete-lhe zelar pelos interesses de todo o Sistema Financeiro e Bancário da União Europeia, de modo a manter a sua integridade sistémica. Veja-se que, graças a tratados leoninos como o de Maastricht e o de Lisboa, subscritos nas costas do povo, os bancos compram dinheiro ao Banco Central pela bagatela de 1% a 1,5% e vendem-no aos Estados Membros por 5%, no mínimo, estando estes proibidos não só de emitir moeda, mas também de aceder diretamente àquele crédito. Por outro lado, o BCE, que é na verdade um banco central privado, não tão independente com se julga, atua concertadamente com outros centros congéneres, a começar pelo BIS, o banco dos bancos centrais, o Fed e a City Londrina, etc. Tal significa que o Sistema funciona em rede, com as diferentes partes solidárias entre si, garantindo que o Crédito e a Produção de Moeda não ponham em causa a sobrevivência do Capital Financeiro Internacional. Daí o seu funcionamento praticamente em “cartel”.

O crédito bancário substituiu a moeda nacional com vantagem evidente para o Sistema Financeiro e Bancário Internacional. Graças à Reserva Fracionária, os bancos podem emitir moeda fictícia, sem qualquer lastro, e emprestá-la aos Países a juros, por vezes, extrusivos. Em caso de rutura financeira, por excesso de ativos podres ou má gestão, os bancos podem sempre contar com o Banco Central ou o Estado para lhes injetar liquidez. Na sequência do Crash do imobiliário norte-americano, em 2008, houve de imediato uma injeção de liquidez na banca internacional, garantida em primeiro lugar pelos Estados e em segundo, pelos bancos centrais dos USA e da Europa, algo que teve contornos de escândalo, mas poucos comentadores salientaram esse facto. Veja-se o que se passou com a “nacionalização” do BPN, onde o Estado português gastou milhões, para depois o vender por tostões… Veja-se que no acordo com a Troika está inscrita uma avultada verba, 12 mil milhões de Euros, para socorrer os bancos, obrigatoriamente garantida pelo Estado Português, tal como se fosse um fiador… Mais, o Estado vai comprar “papéis” (ações) dos bancos em dificuldade financeira, mas não terá voto na matéria, mesmo que a sua participação seja superior a 50%... Ora toma, que é democrático! Nenhuma outra atividade económica, como o sector bancário, é tão protegida, o que contradiz a essência do próprio Capitalismo, que pressupõe riscos e concorrência. Dá que pensar, não dá? 
A criação do Euro teve contornos heglianos, como aliás tudo que se relaciona com a integração europeia. O facto das grandes decisões terem sido tomadas sem qualquer referendo, embora este tenha sido prometido, justifica a nossa opinião. É que nestas coisas que mexem com o destino dos povos, convém que não se abra o jogo e se adoce a pilula com um bom argumento ou engodo… para que os objetivos ocultos da Elite Global possam ser atingidos, se possível com a colaboração das próprias vítimas… Noam Chomsky, filósofo e escritor canadiano, nas suas "Visões Alternativas”, descreve com clareza a fórmula que leva os povos a aceitar o engano: “Criam-se os problemas e depois oferecem-se as soluções. Este método também é chamado de problema→reação→solução. Cria-se um problema, uma "situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este se torne "suplicante” das medidas que se deseja implantar.” Não admira pois que muita gente entenda que o melhor mesmo é entregarmos Portugal…

Mesmo agora, com a Crise do Euro, insiste-se numa via enganosa, para que o cidadão comum aceite a Austeridade como absolutamente necessária, passageira, ainda que não se diga quando termina. Aceite-a como uma necessidade imperiosa para salvar a Pátria… Vamos ter de facto que atravessar o deserto, mas não por essa razão, mas para salvar o Sistema Financeiro e Bancário dos papeis podres que gerou com a especulação financeira elevada à estratosfera. Os nossos governantes quando insistem no pagamento da Dívida Soberana já… nada mais estão a fazer que ir ao encontro desses interesses. Os bancos têm pressa de repor o que perderam… e por isso precisam do dinheiro vivo dos impostos… retirados ao Trabalho.     

A trama contra a independência dos povos não seria possível se não contasse com apoios internos, uns atuando consciente e objetivamente, outros, como “idiotas felizes”, acreditando na “bondade” do processo de Desconstrução Nacional, todos porém, vivem na expectativa de vantagens pessoais. Veja-se que os do primeiro tipo, quando completam o seu mandato, têm tido à sua espera bons cargos em entidades internacionais controladas pela Elite Global, enquanto os do segundo tipo, ficam a ver navios… Pudera, estes são a sua massa de manobra, que, como “operárias” de um formigueiro, morrem após a conclusão da sua tarefa…

Ocorreu previamente em Portugal um trabalho de sapa pela mão de governantes apátridas, alguns ainda no Poder, e de gentinha sem escrúpulos, que levou à destruição de sectores económicos fundamentais, que a existirem permitiram enfrentar a Crise em melhores condições. Desde logo, tal facto aumentou o défice da nossa Balança Comercial, gerando uma maior dependência de importação de bens e produtos, o que apenas favoreceu e favorece as potências económicas da Zona Euro, já que é delas que vem muita coisa que comemos e bebemos, além de originar uma sistemática falta de dinheiro no mercado interno. Houve portanto uma política “deliberada” de desmantelamento das bases da nossa Economia, feita em nome de uma pseudomodernização do Capital Fixo existente. Muitas atividades foram abandonadas sob o influxo dos Fundos Estruturais da CEE que pressupunham o abate das estruturas e meios produtivos existentes que convinham destruir para dar lugar, como deu, à entrada maciça de bens, produtos e equipamentos, com vantagem óbvia para os fornecedores estrangeiros e distribuidores nacionais.   

Claro que para chegarmos aqui, houve internamente muito laxismo político. Dizemos até, muita corrupção de princípios e valores. Os governos promotores da integração europeia escamotearem as consequências negativas da adesão à CEE e esconderam o lado comprometedor dos tratados que subscreveram. Apenas viram o dinheiro a entrar a rodo… Parte entrou diretamente nos bolsos de alguns… Ninguém cuidou de informar do preço que haveríamos de pagar por tanta “bondade” europeia, que se traduziu pela perda de autonomia Financeira e Económica. Como diz o outro, não há jantares de borla…

Por outro lado, os governantes, de um modo geral, foram incompetentes na gestão dos recursos financeiros colocados à sua disposição, esbanjando-os em investimentos que mais das vezes serviram interesses privados, invés de servir o bem geral do país. Veja-se o caso das Parcerias Públicas Privadas (PPPs), com contratos leoninos a favor dos concessionários, sobrecarregando o erário público por várias décadas, e o financiamento de Fundações, cujo objeto social e cultural é, do ponto de vista do interesse público, duvidoso, sobretudo quando existem carências sociais que ficam de fora do Orçamento de Estado ou são insuficientemente financiadas. Obviamente este estado de coisas, já de si representando a corrupção das verdadeiras preocupações de um Estado de Direito, indicia que muito dinheiro público tem sido abusivamente desviado para pagar comissões e bónus em troca da adjudicação de contractos públicos altamente vantajosos para os privados.

Ao mesmo tempo que se afirma que a austeridade é absolutamente necessária para sair da crise e que até pode ser necessário fazer mais sacrifícios, diz-se que se assim não fosse, seria pior… Mas com o desemprego a atingir perigosamente um milhão de trabalhadores e a fome a rondar a mesa de milhares de famílias, temos dúvidas se a solução contrária não seria menos penosa, ou seja, o abandono do Euro e o regresso ao Escudo. Sacrifício por sacrifício, preferíamos fazê-lo por uma causa maior, a recuperação da Soberania Nacional. Pelo menos sabíamos que no final da linha, os portugueses voltariam a ser “donos do seu nariz”. Como as coisas estão, temos a certeza que chegaremos ao fim mais pobres e mais dependentes dos “mercados”, essa entidade abstrata e difusa através da qual a Elite Global manobra para alcançar o seu objetivo final da criação de um Estado Global e Totalitário à escala do Planeta, de que a União Europeia é uma espécie de ensaio.   

Artur Rosa Teixeira
(artur.teixeira1946@gmail.com)